A alquimia pode transformar o BRT Belém em porcaria pública

Meu amigo chama o prefeito Duciomar de alquimista. Por que alquimistas, perguntei? Tudo nas mãos da administração dele, inclusive coisas positivas,  tendem a virar problemas para a cidade. É o caso do BRT, um excelente sistema de transportes de massas pensado por Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, para ser uma alternativa bem mais barata ao caríssimo metrô. 

 

O BRT é um sistema de transporte vantajoso sobre os demais. Chega a custar até 20 vezes menos que os transportes de massas sobre trilho. Em Curitiba e Bogotá o BRT foi pioneiramente implantado e funciona perfeitamente, tanto que está sendo copiado e implantado em cidades de quase todos os continentes. Ele ainda tem a vantagem de poder ser implantado por módulos e adaptados a cada realidade. O BRT ajuda a integrar os diversos modais, incluindo a bicicleta e o barco.

 

Duciomar fez a escolha certa quando optou pelo BRT, mas seus dotes de alquimistas estão colocando o sistema em risco, com possibilidades de graves prejuízos para o povo de Belém, saiba porque.

 

Pelo andar da carruagem, Duciomar está correndo para entregar apenas um trecho da obra, deixando o resto e os problemas para a próxima administração.  O prefeito faz a obra deixando de considerar as pessoas, a boa técnica, pensando apenas no calendário eleitoral da sua sucessão. 

 

O rol de desacerto do BRT incluem problemas com a licitação, desacerto com o Estado, financiamento, cronograma da obra e problemas técnicos.


A licitação internacional está repleta de questões controversas, com graves suspeitas de irregularidade, tudo aguardando uma decisão do Poder Judiciário.


O BRT que a prefeitura adotou e o BRT desenhando pela agência japonesa JICA em colaboração histórica com o Governo do Estado (Por falar em Governo do Estado, até agora o projeto estadual não saiu das pranchetas das Agências de Propaganda) não eram o mesmo e chocavam-se em muitos pontos.  O BRT que o Estado estava negociando e que ate já tinha financiamento garantido, integrava toda região metropolitana. O sistema de transporte de Belém não funcionará isoladamente. As pessoas moram em Ananindeua, Marituba e trabalham em Belém, por isso dependente do transporte que circula na nossa cidade.

 

O prefeito Duciomar, querendo desconhecer esta realidade, tratava apenas do transporte em Belém. A polêmica entre Governo e Prefeitura impediu o inicio da obra. Foi necessário rodadas de negociações até que um acordo foi celebrado entre as partes, ficando cada um com um pedaço do projeto.


A Prefeitura de Belém ficou com Augusto Montenegro e Almirante Barroso do Entroncamento até São Braz. O Estado ficou com a BR 316. Mas até hoje ninguém explicou para os passageiros que vierem dos outros municípios como eles farão para entrar nos ônibus do BRT depois do entroncamento. Descerão em um terminal e pagarão outra passagem? Vocês que fizeram o acordo, nos expliquem, merecemos ser informados.

 

Duciomar anunciou e até mostrou em propaganda que o Governo Federal estava apoiando e aprovando o seu projeto, mas a verdade é que até agora o Governo Federal não liberou uma só parcela de recursos para implantação do BRT Belém. Duciomar deixará a dívida para o próximo prefeito logo no início do próximo mandato?

 

Os dois pontos mais preocupantes desta polêmica ação do prefeito Duciomar são, sem dúvidas, o cronograma e os detalhes técnicos do projeto. 

 

O final do mandato e o tempo da obra teimam em não se coadunar. Todos que observam o rítimo  no canteiro da Almirante Barroso e da Augusto Montenegro e o comparam ao tic tac do relógio do mandato, percebem que não haverá tempo para a obra ficar pronto como deve ser, no curto espaço que restam para Duciomar descer as escadarias do Palácio Antonio Lemos. Duciomar vai criar um cenário de obra pronta e inaugurar apenas para favorecer seu candidato, fazer funcionar uns poucos dias antes das eleições e depois do dia 07 de outubro, o sistema terá suas operações interrompidas para consertar os erros oriundos da irresponsabilidade eleitoral. É possível concordar com tamanha irresponsabilidade?

 

No caso dos detalhes técnicos, a coisa é mais grave, pois pode significar a cruz que o povo de Belém ira carregar pelo resto da vida. O BRT só funciona bem se for construído atendendo as regras técnicas oriundos de erros e acertos cometidos em Curitiba e Bogota, que serviram de estudos, dos quais surgiram soluções que não podem ser desprezadas agora.


A sociedade  belemense, que vai pagar a conta final do BRT, tem o direito de exigir que os pontos obscuros desta obra sejam esclarecidos urgentemente.


E quais são estes pontos?

  1. Sistema é aberto ou fechado?
  2. Usará tronco-alimentadores ou serviços diretos?
  3. Vai utilizar o serviço expresso ou de paradas reduzidas? 

Capacidade e velocidade são as características do BRT que o coloca a frente dos sistemas de ônibus convencionais, mas para ser eficiente o sistema deve atingir metas mínimas de capacidade e velocidade.

 

      1. Capacidade ideal é 13000 passageiros por hora e por sentido;

       2. Velocidade média de 23 a 39 kilômetros por hora.

 

Para conseguir um sistema de alta capacidade e alta velocidade é necessário que o BRT garanta:

 

  1. Múltiplas posições de paradas nas estações;
  2. Serviços expressos e de poucas paradas;
  3. Veículos articulados com múltiplas portas, portas largas;
  4. Pagamento e controle de pagamento fora dos ônibus;
  5. Plataforma de embarques em nível;
  6. Bons espaços nas estações.

 

Será que o BRT do Prefeito alquimista atende estas especificações necessárias? 

 

Para este e outros esclarecimentos não será possível contar com a fiscalização da Câmara Municipal de Belém, composta, na sua maioria, de vereadores subservientes, que não honram os mandatos que o povo lhes concedeu. Com exceção dos poucos vereadores aguerridos da oposição, os demais sempre estiveram contra os interesses dos eleitores de Belém.


A nossa única salvação é a imprensa, isto se ela resolver nos ajudar. A imprensa séria, comprometida, investigativa, bem que poderia perguntar, investigar, debater, antes que Duciomar opere a química e nos deixe de herança uma bela e caríssima porcaria pública. 

 

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